Criatividade em tempos de corona
Esta adaptação também acontece com as marcas, que na maior parte dos casos se apropriam da situação, alterando a sua linha de comunicação ou nalguns casos, até o seu core business para melhor responderem ao problema. No entanto, esta abordagem ao problema tem levantado muitas críticas por ser considerado oportunismo dada a situação danosa de certas marcas perante os seus funcionários. Não é novidade que em tempos de crise a nossa capacidade de reinvenção é posta à prova e tal como no passado, a iremos ultrapassar e dela sair mais fortes.
Relativamente aos consumidores, e por via do seu confinamento, verifica-se uma alteração de comportamentos e estes são impactados quase exclusivamente pelos meios digitais e televisão. É natural que daqui advenha um acréscimo de transacções de bens sem o contacto humano, através do crescente e-commerce ou até a proliferação de estabelecimentos comerciais robotizados.
Loja sem funcionário da Amazon Go
Wheelys Moby Mart é uma mercearia ambulante, sem funcionários testada em 2018 em Shanghai
Contudo, e em especial, no que diz respeito a bens de primeiro consumo e tendo em conta o factor da sustentabilidade e mesmo o revigorado interesse nas origens dos produtos, pequenos estabelecimentos serão forçados a actualizar-se para melhor responderem à sua crescente procura. Isto acontece porque as famílias na maior parte se encontram em tele-trabalho e em assistência à família e por isso recorrem ao comércio local fazendo com que a ideia de “bairrismo” seja acentuada.
O Design, em todas as suas vertentes, procura responder criativamente aos problemas do ser humano. Essa resposta, para além de se basear no binómio, forma-função deverá sempre ter subjacente um carácter emotivo e sensorial. No design de produto destaco a Piaggio que, num contexto duríssimo na Itália do pós-2ª Guerra Mundial, abandona o fabrico de material aeronáutico e decide entrar na indústria dos veículos de massas (utilitários e baratos) e projecta mundialmente a adorada Vespa. Recentemente e também em Itália, a empresa Isinnova transformou máscaras de snorkeling em ventiladores para doentes recorrendo assim à criatividade como ferramenta.
São inúmeros os exemplos de como o design mudou a vida das pessoas e evoluiu com a sua história. Um dos casos que destaco é o de uma garrafa no mínimo revolucionária da marca Heineken. Ao visitar Curaçao em 1960, o magnata da indústria cervejeira, Alfred Heineken ficou chocado com a quantidade de garrafas de cerveja espalhadas pela praia e pelas miseráveis condições do nível das habitações devido à escassez de materiais de construção a preços acessíveis. Como resposta a ambos os problemas, Heineken contratou um arquitecto holandês para projectar uma garrafa de cerveja que serviria também como tijolo de vidro.
Segundo o guru do design de produto Dieter Rams o bom design terá de ser: inovador, útil, marcante, sustentável, simples e honesto. É esta honestidade que hoje é pedida às marcas. Neste nosso confinamento forçado somos obrigados a analisar o que nos é essencial e o que nos toca, já que não podemos tocar.
Qualquer que seja a área do design, a emoção e o sensorial têm de estar presentes pois são imperativos que atribuem o valor das coisas. Quando projectamos um espaço, um stand, um evento ou activação por mais tecnológica que seja, tem de haver uma ligação emocional para o consumidor. Os projectos com maior sucesso são aqueles que marcam as pessoas no patamar das emoções.
Criatividade em tempos de corona.
Assim, e sem previsões do que irá resultar da situação em que vivemos, arrisco-me a dizer que voltaremos a sentir e a tocar, a interagir e a ser impactados. Sou da opinião que, outras formas de trabalhar como por exemplo os eventos online poderão ser o caminho para certos projectos, mas nada irá substituir o impacto de estar in loco e viver na pele o design e comunicação.
#WeareMultilem
Leia o último artigo sobre – Brainstorming – escrito pela Margarida Monteiro, Designer Gráfica na Multilem.