THE WALL DOS PINK FLOYD

 

Antes de ter este desafio profissional, despertei para esta temática graças a uma prenda de anos. A edição especial do The Wall dos Pink Floyd!

Ao folhear o livro, tomei consciência do trabalho pioneiro. A concepção de um cenário que se foi construindo ao longo do concerto da banda, e que se relacionava com os vários momentos do espectáculo.

Pelo que li o Roger Waters estava bastante desiludido com os grandes concertos de estádio. Sobretudo, tinha saudades da cumplicidade que exista anteriormente entre o público e a banda.

Após um concerto no estádio Olímpico de Montreal durante o The Animals tour, a frustração deu lugar a uma ideia – CONSTRUIR UM MURO DURANTE O ESPECTÁCULO.

A ideia de construir um muro entre a banda e a audiência apresentava em si mesma, um significado que extravasava o conceito do concerto e poderia tocar bem de perto o íntimo de cada um.

Quem sabe talvez esta barreira auto infligida promovesse uma maior comunhão entre a música, a banda e a audiência.

Palco The Wall dos Pink Floyd

Mais à frente, encontrei no interior do livro a personalidade na cenografia dos grandes concertos de rock: Mark Fisher. A pessoa que depois deu vida a esta ideia: http://www.stufish.com/about/mark-fisher

A sua grande preocupação, no espectáculo, centrou-se na garantia de que as ideias/filosofia não fossem afectadas pelas soluções tecnológicas. Contudo, não passou de uma preocupação. Na realidade teve que lidar com as maiores versões dos mesmos velhos problemas (talvez fosse a sua modéstia a falar).

Anos mais tarde tive o prazer de o conhecer numa palestra da Experimenta Design. Começou a descrever os circos que atravessavam os Estados Unidos durante a grande depressão e acabou nos grandes concertos de estádio. Foi sem dúvida uma verdadeira lição.

Palco The Wall dos Pink Floyd

 

DAFT PUNK

 

Com o desenvolvimento da música electrónica e a sua integração em grandes concertos/festivais, os DJs viram-se confrontados com a necessidade de maior interação e envolvimento com o público. A verdade é que eles não passam de pequenos pontos distantes no palco.

Um exemplo incrível é a pirâmide dos Daft Punk.

Diálogo entre a imagem do grupo, o design do palco, a dinâmica de luzes e os conteúdos do vídeo assumem uma qualidade impressionante. Contribuem ainda, de forma imprescindível, para a experiência do espectáculo.

Naturalmente estamos a falar de algo só possível com o surgimento de novas tecnologias. Sobretudo os LEDS, dispositivos mais intuitivos de controle de conteúdos cenográficos e, claro, de concepção de música electrónica ao vivo.

Podem ver neste link o Jazzmutant Lemur a ser usado pelos Daft Punk: https://www.youtube.com/watch?v=-MUjtb3dO9M.

Palco concerto Daft Punk

 

CONGRESSO DO PARTIDO NAZI

 

Em 1936 os recursos tecnológicos eram bem diferentes dos dias de hoje, no entanto, nunca foi motivo para ausência de criatividade. O congresso do partido nazi em Nuremberga, filmado pela controversa cineasta alemã Leni Riefenstahl (O Triunfo da Vontade), tornou-se um ícone que inspirou manifestações posteriores.

O recurso a escalas grandiosas e a repetição até à exaustão de formas enquadradas em simetrias quase inumanas, conseguem comunicar um poder terrível. Aqui cada pessoa entrega a sua individualidade a uma onda imparável.

No entanto, estas soluções não são propriamente uma novidade. Além do mais, foram amplamente usadas nas manifestações de poder dos grandes impérios da antiguidade e dos regimes totalitários da actualidade. Basta olhar para os desfiles da Coreia do Norte, ou até observar uma situação menos óbvia – o encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Palco Jogos Olímpicos de Pequim

 

DESFILE OUTONO/INVERNO CHANEL 2012

 

Hoje em dia os desfiles são extremamente importantes para a divulgação das grandes marcas de moda.

Tenho especial admiração pelo trabalho de Etienne Russo, tanto nos desfiles mais intimistas de Dries Van Noten, como nos grandes eventos da Chanel.

Antes de passar aos meus palcos, não posso deixar de partilhar aqui o espectacular desfile Outono Inverno 2012 produzido para a Chanel: https://www.youtube.com/watch?v=xLw-hozWzpc

Palco Desfile

 

PALCO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

 

O desafio lançado pela FFMS para organizar uma conferência na Casa da Música dedicada a temas como a inteligência artificial ou a internet foi bastante motivador.

E como a terra é redonda pareceu bastante óbvio que o palco tinha de conter um ecrã redondo.

As propriedades estéticas deste formato associado a lives redondos, filmes e motion grafics seriam muito interessantes. Foi sem dúvida uma oportunidade de prestar o meu tributo a Mark Fisher.

Palco Admirável Mundo Novo

O cenário só ficou completo com o tratamento do fundo de palco (bancada do coro).

A Multilem tinha no armazém 80 monitores de PC desactualizados. Decidimos dar nova vida a esses aparelhos. Tirámos partido do efeito pixel, conseguido com todos os aparelhos interligados num software desenvolvido especialmente para esta situação.

Um ecrã redondo precisa de conteúdos adequados, mas a verdade é que não controlamos o material dos oradores. Ainda assim, existem boas surpresas. Especialmente quando temos o conteúdo do José Alberto Carvalho: um smile gigante, a máscara do anónimos. YES!

Palco Admirável Mundo Novo

 

PALCO DO ALTAR DO PAPA

 

A vinda do Papa Bento XVI a Lisboa e a missa no Terreiro do Paço foram um marco importante para os católicos e para o estado português. E claro, para a Multilem também.

Foi com grande entusiasmo que a equipa recebeu o pedido da proposta criativa, no entanto com um deadline de 6 dias…

Contudo a solução centrava-se no seguimento das boas práticas do desenvolvimento criativo. A investigação (velas, ondas, anjinhos, pedras), o brainstorming, os caminhos e o debate faziam parte deste processo. Nada de jeito aparecia no papel.

E o nosso momento inspirador viria a ser a reunião com um parceiro de audiovisuais. Ao visualizar várias possibilidades técnicas lembrei-me de um desenho que fazia repetidamente – a minha igreja. Não era a igreja do céu, mas sim a da terra. Descíamos para entrar e a luz vinha de buracos na abóbada e a cobertura elevava-se ligeiramente do chão.

Depois disso, foi só adaptar ao centenário Cais das Colunas. No entanto, era importante não interromper o trânsito na Ribeira das Naus e respeitar as características da cerimónia. Uma missa sagrada também tem muitos dos desafios dos outros espectáculos.

Palco altar do Papa

Todos os bons projectos devem contar uma história. O conceito da “minha igreja” estava naturalmente fora de questão. A divina resposta surgiu simplesmente numa pedra e nos 70 km de viagem para casa: um seixo rolado da praia de Santo Amaro de Oeiras.

“Esta pedra é igual à Igreja, ambas são milenares e a sua forma mudou bastante com o passar dos tempos, mas no fundo a sua essência mantém-se. A Pedra continua a ser pedra, a Igreja continua a ser Igreja”.

Placo Altar do Papa Bento XVI

 

No fim, por vezes, basta o talento do artista e um banco. Barbra Streisand no Central Park.

Palco barbra Streisand no Central Park